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Verdades Duvidosas: o eu como ficção e a memória como invenção

  • Foto do escritor: Sandra Castro
    Sandra Castro
  • 21 de jun.
  • 2 min de leitura

Em sua tese de doutorado, Sandra de Pádua Castro se debruça sobre os laços intricados entre memória, linguagem e identidade, investigando o romance La tía Julia y el escribidor, de Mario Vargas Llosa, sob a lente da autoficção — esse território literário onde o "eu" é escrito como invenção, onde lembrar é já narrar, e narrar é sempre recriar.

Ao propor que os personagens escritores são tecidos por memórias e desmemórias, Sandra ilumina a tessitura ficcional como um ato psíquico de constituição do sujeito, em que o passado é moldado menos como registro fiel e mais como desejo, falha e elaboração.

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A tese mergulha nos conceitos de deicídio (escrever como matar simbolicamente a realidade insatisfatória) e demônio (a compulsão criativa), presentes na teoria do próprio Vargas Llosa, e os articula com noções de identidade narrativa e subjetividade fragmentada. Com isso, a autora sustenta que escrever é, muitas vezes, um modo de resistir ao desamparo, de fabricar sentido onde o mundo falha — uma prática profundamente próxima à escuta analítica.

Ao analisar as técnicas de vasos comunicantes e caixa chinesa como estruturas da narrativa autoficcional, Sandra mostra como os personagens Varguitas e Pedro Camacho espelham os embates entre o eu público e o eu secreto, entre o desejo de coerência e a verdade polifônica que emerge da linguagem.

A psicanálise está presente no subtexto: o trauma do exílio simbólico, a ficção como defesa psíquica, o ato de escrever como elaboração de perdas e reelaboração de si. Em cada camada, o que se questiona é: o que é o "eu" senão uma história bem contada? E quem escreve — ou fala, ou analisa — não estaria, como o romancista, tentando costurar os retalhos de sua própria existência?

Sandra nos oferece uma leitura do escritor como sujeito dividido, e da literatura como ato terapêutico, ainda que inconsciente. É como se cada frase dita no divã também pudesse ser escrita em um romance — e vice-versa.


 
 
 

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©2025 - Por Sandra de Pádua Castro, Psicanalista - Phd.

Registro na Associação Brasileira de Psicanálise: CRPsi 3.6.003

Belo Horizonte - MG

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